Resenha
da Aula Magna com Jorge Furtado
No último
sábado dia 27 de setembro, tivemos a Aula Magna com o premiado cineasta Jorge
Furtado, diretor do aclamado “Ilha das Flores (1989)”, além de outros filmes como “O Homem que Copiava (2003 )” e o recém-lançado “O Mercado de
Notícias (2014)”. Gaúcho, ele foi um
dos fundadores da Casa de Cinema de Porto Alegre, cooperativa de cineastas do
sul.
Jorge
abriu o debate levantando a seguinte questão: O que é necessário para se fazer
um filme? Com a simplicidade que lhe é peculiar, definiu que é preciso selecionar
uma entre mil ideias. O cinema é luz e imagem, em uma tela retangular, podendo
haver ou não o som. Os elementos fundamentais para a realização de um filme são
o tempo e espaço.
Com uma
lista que elenca os 10 mandamentos da Good
Machine (produção de filme independente de baixo orçamento), Jorge passou
por vários aspectos que precisam ser trabalhados e detalhados da melhor maneira
possível. O roteiro e como esmiuçar uma
ideia, os personagens e suas características, o espaço e como ele deve ser
trabalhado, a cor e como se usa-la ou não de sua ausência para lidar com a
intensidade de sua obra.
Após 2
horas de uma belíssima aula, o tempo para a utilização do Teatro II do Centro Cultural
Banco do Brasil havia terminado, mas a vontade de trocar experiências era tanta
que todos deixaram o teatro e tomaram o hall. Gentilmente Kelly, a gerente do
CCBB providenciou outro espaço e inúmeras pessoas se espremeram em outra sala
avidas de aprendizado.
Nesse
momento foi aberta a sessão de perguntas e naturalmente houve um grande
interesse no curta-metragem mais premiado da história do cinema nacional, Ilha
das Flores. Ele contou que a ideia nasceu ao pensar em explicar o assunto do
filme para um E.T., de tão absurdo que pareceria aos humanos. Jorge não deixou
de explicar sobre gêneros cinematográficos. Perguntado sobre qual é a diferença
entre documentário e ficção, afirmou que na opinião dele essa diferença é ética,
já que a gente só pode acreditar na palavra de quem fez. Por outro lado, um
fato oferece diversos pontos de vista.
Exemplificou com o caso do criador de porcos
do “Ilha das Flores (1989)”, que era um cara que todo mundo gostava e o diretor
não podia fazer ele assumir um papel pouco nobre no curta. Diante disso o
diretor optou por colocar outra pessoa, no caso o motorista da van, representando
o dono do terreno. Assim não criou antipatia com alguém que sempre foi visto
com bons olhos. Sobre a definição de realidade, ele abordou um ponto que amplia
a reflexão: “Ficção você tem certeza de que é verdadeiro e no documentário não”.
Referências de Jorge Furtado
Citações:
“O tempo de um filme deveria ser medido pela bexiga do
espectador”.
Luis Buñuel
“O cinema é a música da luz”.
Abel Gance
“Cinema é cachoeira”.
Georges Mélies
Os Dez Mandamentos da Good Machine
1. O orçamento é a estética - adapte
seu roteiro às suas possibilidades. Lembre-se: se a escala de sua história
ultrapassa os seus recursos, o público vai achar que algo está faltando e você
vai perdê-lo.
2. Realismo custa dinheiro - por
isso determine bem suas opções estéticas e atenha-se a elas.
3. Você não pode realizar um
filme "no-budget" sem ter um orçamento e ater-se a ele. Saiba o custo
de tudo, saiba quanto você já gastou, saiba quanto você ainda vai precisar
gastar.
4. Faça tudo o mais legalmente
possível - consiga licenças, escreva memorandos, trate dos direitos autorais,
liberações, permissões, etc. Não deixe que nada venha a atrapalhar a obtenção
da licença final para a exibição do seu trabalho.
5. Não faça acordos para
conseguir dinheiro que façam com que você se sinta desconfortável ou que possam
comprometer muito sua liberdade - seja preciso, claro e inequívoco quanto a sua
linha criativa fundamental.
6. Não seja um idiota com sua
equipe (há duas formas de ser idiota: ser rude ou ser desorganizado e
desperdiçar o tempo deles).
7. Se você deixar, as pessoas
desaparecem. Alimente bem o elenco e a equipe - uma boa alimentação é meio
caminho andado para compensar o mau pagamento. E dez horas de descanso entre os
dias de trabalho não é um luxo, mas uma necessidade.
8. Todos os erros são cometidos
na pré-produção. Improvisação e sorte são recursos excelentes durante as
filmagens - mas eles não substituem a total falta de preparo. Comunique suas
idéias à equipe. Não a obrigue a adivinhar o que você está pensando.
9. Não perca tempo terminando
esta lista. Comece a rodar!
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