Novidade no Blog da Mostra Geração 2009, publicaremos resenhas críticas dos filmes de nossa programação comemorativa de 10 anos. Nesta primeira postagem, você poderá se familiarizar com o universo de Quem Tem Medo do Lobo? e logo abaixo, conferir o trailer do filme.
O Rabo da Conversa
Por Bia A. Porto
Resenha crítica do longa Quem Tem Medo do Lobo?
(Kdopak by se vlka Bál)
República Tcheca, 2008, 90min.
Direção: Maria Procházková
Era uma vez uma família feliz: Terezka, sua avó, sua mãe, seu pai e um lobo. Conto de fadas pós-moderno é assim, o lobo também faz parte da família. Ele é um assunto delicado, um segredo de gente grande.
Quem Tem Medo do Lobo? é um filme sobre o rabo de conversa de adulto que criança consegue fisgar de vez em quando. Sabe quando os seus pais falam, ou falavam, sobre algumas coisas que você não pode, ou não podia, saber só porque ainda é, ou ainda era, pequeno? Nessas situações, não tem jeito, ficamos curiosos e tentamos, de qualquer maneira, pescar um pouquinho da conversa, nem que seja o rabinho.
Terezka, que adora a história da Chapeuzinho Vermelho, está no jardim de infância e não consegue compreender tudo o que se passa com os adultos, eles têm um papo e um comportamento realmente estranho. Em casa, a menina e sua mãe, que abriu mão de uma promissora carreira como cantora lírica, andam brigando apesar de todo o amor e carinho que há entre elas.
Como é difícil a comunicação entre gerações! Os pais guardam um segredo porque acreditam que Terezka seja muita nova para saber. Ao mesmo tempo, a professora nunca entende o que as crianças estão fazendo e estraga todas as brincadeiras. Esses adultos parecem uns alienígenas. Acontece que quando as pessoas têm alguns probleminhas, mas têm medo de falar, elas podem se transformar em um tremendo lobo mau, ou num bicho de sete cabeças, numa coisa bem maior do que eles são na verdade. Nas famílias atuais, a separação é um fantasma muito freqüente que cresce conforme os motivos que podem levar a ela. E aí, não é só criança que fica assustada.
Mas o que esse belo filme ensina é que, se nos comunicamos bem e dividimos as nossas angústias e alegrias, o final tem tudo para ser feliz. E isso não vale só para as relações entre pessoas de idades diferentes. Quando Terezka passa a falar mais com a Gábinka, sua coleguinha da escola, ela se surpreende e faz uma nova amiga, de quem a ajuda será muito importante.
A premiada diretora e roteirista, Maria Procházková, foi corajosa na escolha do tema. A maioria dos filmes infantis que entram no circuito brasileiro prefere os monstros concretos aos psicológicos. Ela também teve sucesso nas suas opções de linguagem. Animações simples interagem sobre as imagens dos atores, introduzindo a visão de uma criança sobre o mundo real. Na cena em que Terezka vai assistir a um recital da mãe, um traço infantil desenha a figura do pai na cadeira vazia ao lado da menina. Dá uma dó!
Já a sequência em que Simon, o melhor amigo da protagonista, narra como conseguiu assistir escondido a um filme de terror tem uma construção interessante. Os ambientes de onde a história está sendo contada e onde a história se passou, assim como os tempos (de quem narra e de quem viveu), se misturam. E isso mostra um jeito criativo de contar histórias no cinema. É um dos vários momentos deliciosos do filme, no qual a dupla de atores mirins, Dorota Dedková (Terezka) e Matous Kratina (Simon), também merece destaque.
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