Resenha Crítica do longa KNERTEN (Knerten)
Noruega, 2009, 75 min.
Direção: Asleik Engmark
Por Andrea Garcez
KNERTEN é baseado no livro infantil da escritora Anne-Cath Vestly e dirigido por Asleik Engmark, que também dubla o personagem que dá nome ao filme - um pequeno galho caído de uma árvore e amigo imaginário de Lillebror - um menino que acaba de se mudar com a sua família para o campo.
A casa está velha e precisa de muitos reparos, a família passa por dificuldades financeiras e todos – Lillebror, seus pais e seu irmão mais velho, Phillip – tentam adaptar-se à nova situação.
Trata-se de um filme bem leve e divertido, com passagens deliciosas sobre o universo infantil, mas que tangencia algumas questões interessantes que poderíamos explorar de maneira mais profunda, como a relação do irmão com os novos amigos da escola e a dificuldade de ser aceito, ou mesmo a situação econômica da família. KNERTEN tem o mérito de nos lembrar o quanto é difícil ser criança, seja em qualquer época ou lugar.
Enquanto Lillebror tem que lidar com os desafios de sua nova vida, ele e Knerten vivem muitas aventuras com direito a floresta, dragões, castelos, cavalos e até uma princesa.
É possível identificar alguns brinquedos na estante do quarto de Lillebror, mas é com Knerten que ele brinca todo o filme, e com os restos de madeira deixados pelo carpinteiro, com o estoque encalhado de meias-calças coloridas que seu pai vende, meias que iriam para o lixo porque vieram com as cores “erradas”.
O filósofo Walter Benjamin fala dessa preferência que as crianças dão ao nosso lixo, detritos, retalhos. Qualquer objeto lhes serve de brinquedo:
“(...) é ocioso ficar meditando febrilmente na produção de objetos – material ilustrado, brinquedos ou livros – que seriam apropriados às crianças. Desde o Iluminismo é esta uma das mais rançosas especulações do pedagogo. Em sua unilateralidade, ele não vê que a Terra está repleta dos mais puros e infalsificáveis objetos da atenção infantil.*
Knerten explora bem essa característica infantil. Um pedaço de tronco vira o melhor amigo de Lillebror, restos de madeira e pregos transformam-se em castelos e uma cama para Knerten, galhos caídos na floresta são dragões. O mais interessante, no entanto, são os diferentes e criativos usos dados para as meias. Cenas que dão um colorido especial (em todos os sentidos) ao filme.
As canções norueguesas que compõe a trilha sonora são outro ponto forte de Knerten.
* Fragmento de: BENJAMIN, W. Reflexões; a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2002. p. 57
Andrea Garcez é doutoranda em Educação e integra o Grupo de Pesquisa em Educação e Mídia (GRUPEM), coordenado pela professora Rosalia Duarte e vinculado ao Departamento de Educação da PUC-Rio.
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